quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A ÁRVORE QUE SABIA DEMAIS

                    Numa floresta encantada, num reacanto do planeta, um velho Jequitibá contava a história de sua natureza, tazendo em sua longevidade conhecimentos misteriosos. Tratava-se de uma  vegetação gigantesca, que conseguiu sobreviver aos interesses do merecado... O velho arvoredo media cerca de trinta metros de altura e estendia seus galhos de folhas sadias por invejável diâmetro, cobrindo e florindo uma  enorme área. A estrutura da árvore chamava muito a atenção. 
                     O Jequitibá era testemunha de crimes ambientais que ocorria naquela floresta, tendo observado a derrubada de seus parentes e amigos, bem como queimadas indiscriminadas, para atender a interesses pecuaristas. Viu , por exemplo, uma irmã e uma sobrinha serem exterminadas clandestinamente e levadas para servirem à indústria de móveis, considerando o ato sem dó nem piedade. Descreve a cena da derrubada com detalhes que impressionam: - "Vi a mtosserra dilacerando o corpo de minha irmã, pondo-o no chão, depois de atravessá-la junto à raiz e, em seguida, após caída, arrancar os seus membros um a um; a folhas choravam lágimas de clorofila. O corpo não foi encaminhado para o Instituto Médico Legal, pois seria uma incoerência, afinal de contas era preciso levá-lo a uma madeireira mais próxima, afim de que pudesse receeber as novas formas dadas por uma indústria não credenciada." 
                     Em relação à sobrinha, o velho Jequitbá foi mais emocional, sofrendo muito na descrição do fato: - " Era uma criança vegetal que contribuiria dezenas de anos para a purificação do ar que os seres animados necessitam. Foi extraída sem o menor interesse comercial, mas, apenas porque nascera numa posição que atapalhava a derrubada de sua mãe, vindo a servir tão somente como lenha na fogueira que aqueceria aos exterminadores no meio da floresta, após perceberem que não seria útil para a indústria de móveis." 
                      O Jequitibáde mais de cem anos de vida assistiu a inúmeros acidentes no confronto do homem com a natureza. Viu a odisséia dos gaimpeiros naquela floresta exuberante de vegetação diversificada, matando-se entre si pela inveja a cobiça do ouro e pedras preciosass. Viu a vegetação rasteira ser arrancada pelas máquinas de garimpos. Assistiu também, preso em sua raiz, à contaminação dos rios pelo mercúrio aplicado descontroladamente. 
                        Nessa linha de sofrimento, o velho Jequitibá vinha acompanhando o desaparecimento da fauna daquele habitat. Lembrou-se do macaco Biriba, que vivia pulando nos seus galhos, até mesmo quebrando galhos, falando em tom de saudade, uma vez que nunca o havia visto pela redondeza. Não sabia se Biriba havia migrado pela escassez de árvores, se havia morrido de fome pela falta de sementes, ou se havia sido comido pelos garimpeiros. O Jequitibá sabia muito... 
                         Infelizmente, o grande vegetal, patrimônio daquela floresta encantada, tinha seus dias contados. O pai de uma imensa árvore genealógica fora condenado à extnção, pois ali, exatamente onde ele estava plantado pela própria natureza, passaria uma rodovia ligando uma civilização a outra, desligando o Jequitibá de sua civilização.
                        O histórico e simbólico Jequitibá viria a tombar como uma árvore que sabia demais, que não deveria deixar vestígios, sendo então arrancada pela raiz. 

                      
(Do livro MEU TEMPO NOSSO TEMPO)


















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