O turista internacional e o brasileiro conhecem muito bem o drama da seca nordestina, que inclusive inspirou a música divulgada por Luís Gonzaga, " Asa Branca". A seca é miséria nordestina que ultrapassa séculos, como um dos maiores obstáculos à interiorização do Brasil. Também, é um drama vivido pelas emoções de Graciliano Ramos em sua obra literária "Vidas Secas", atuando como uma denúncia à falta de providência humana de quem detém o poder político-administrativo. Por quanto tempo ainda o nordestino viverá Vidas Secas ? Até quando Deus quiser ? Ou até quando as campanhas eleitorais quiserem ?
O povo e a miséria sempre estiveram juntos no cotidiano brasileiro, e assim como a seca nordestina várias condições de miserabilidade servem de suporte para campanhas eleitorais. Uma enchente e seus flagelados morando em barracas de lonas, os favelados de Salvador, de Recife, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, de Vitória, de São Paulo, de Manaus, de Belém, de Porto Alegre, de Florianópolis, de Joinville e outras cidades, são exibidos como verdadeiros instrumentos de propaganda eleitoral sob as mais ridículas promessas de solução. A essa altura da exploração da miséria social, não sabemos quem são os miseráveis, se os explorados ou os exploradores, sarcásticos, irônicos e cínicos na exibição da desgraça alheia. Mostra-se a fome, o desabrigo, a epidemia e outras questões sociais como se fossem inéditos nas campanhas eleitorais que vivemos até agora no Pais gigante. A grande diferença é que hoje a miserabilidade alcançou índices alarmantes em benefício dos poderosos que nunca se preocuparam, enquanto no poder, em reduzi-la à proximidade do índice zero.
Será ir longe demais concluirmos que a miséria e o povo precisam permanecerem juntos para que outros miseráveis usufruem dessa situação ?
O que é mais antigo em nossa sociedade do que o drama do menor abandonado ? As cidades estão lotadas de menores carentes, produtos das condições miseráveis que descrevemos anteriormente. Por que esses problemas persistem ? Persistem porque estamos habituados a conviver com conversas fiadas. As mesmas que levam ao poder os que usam o assunto como tema de campanha e depois esquecem de encontrar saída para o drama social.
Sabemos que os problemas sociais não podem ser solucionados apenas pela ação de um segmento da sociedade. É preciso uma ação conjunta. Porém, também sabemos que a sociedade se faz representar por órgãos oficializados a quem compete dar o pontapé inicial. Mas isto não acontece, porque não passa das campanhas eleitorais.
Presenciamos desde os primórdios um dos fenômenos sociais mais evidentes no cotidiano, que é a violência. A insegurança campeia hoje a vida do cidadão e nos faz refletir sobre como nos defender dos "vermes" sociais. A violência não tem cara única. Ela ramifica-se de tal maneira que veste-se do silêncio para surgir.
Tratar da miséria e atender ao desenvolvimento da Educação será a maior contribuição do poder público para uma sociedade sadia, na qual os miseráveis não serão confundidos pela troca de posições. Onde a miserabilidade não se propague tanto através da violência.
Não podemos esperar milagres de uma criança que nasce num mocambo, numa favela, e fica ao relento sem os cuidados dos pais e sai às ruas para pedir o que comer, sem matar a fome, sem estudar, e sem a menor condição de saúde. Esperamos sempre as exceções na multidão de miseráveis, que naturalmente passam a ser projetadas perante a sociedade, como um grande exemplo de vencer na vida. Um "pixote" a menos, na Cidade de Deus.
Aldemir Guimarães
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