Quem teve a oportunidade de ter um avô e o prazer de ouvir dele o valor moral do bigode, certamente deve lembrar da história desta palavra. Deve ter aprendido com o velhinho a razão pela qual os homens usavam bigodes para justificar a honradez. Ter bigode não era uma simples e natural aparência de masculinidade. O bigode simbolizava caráter físico e moral. No entanto, é evidente que estamos nos reportando a uma geração passada, até ultrapassada, na qual o bigode era uma "hipoteca da palavra". Bastava o jovem vovô prometer e selar com um fio do seu bigode a promessa e o crédito era estabelecido. Ninguém colocava em dúvida as negociações seladas com um fio de bigode.
Bons tempos aqueles, em que os homens chamados de bem (os bons) se olhavam e se respeitavam com dignidade e se firmavam com a simples palavra.
A transformação do bigode levou homens a assinarem compromissos por escrito. A escrita solidificou a palavra e a assinatura substituiu o fio de bigode. Mesmo assim, quantos documentos são assinados sem que o seu conteúdo seja levado em conta.
O bigode, no entanto, não é mais aquele da história do vovô do século XX e nem considerado pelos que assinam acordos. Tivemos muitos bigodes elaborando constituições que não são respeitadas em seus aspectos legais pelos próprios bigodudos responsáveis pela sua elaboração. Temos vários bigodes assinando acordos com a sociedade sem, entretanto, por a palavra escrita em ação.
Seria querer demais considerar nos dias de hoje a palavra, pura e simplesmente, como o único aval de qualquer pessoa. A verificar pelo crescimento populacional nas cidades e pela crescente mudança dos valores, o plano da desconfiança permite até a rejeição de firmas reconhecidas, porque não se sabe se são falsas ou verdadeiras. Cabe então dar razão ao vovô, que lamenta a falta de homem de bigode.
(Do livro "Meu Tempo Nosso Tempo")
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