quarta-feira, 26 de julho de 2017

A RUA DO MEDO

             Naquela cidade do século XXI, todos os habitantes desfrutavam de uma vida completamente voltada para o lazer. Em todos os bairros, o que alimentava a noite eram os bares e restaurantes que tinham hora para abrir mas não tinham para fechar. A vontade do freguês em primeiro lugar. 
              Naquela cidade do século XXI, as ruas pegavam fogo em cada esquina. O acúmulo de lixos era tamanho que a coleta tornou-se insustentável, priorizando as queimadas. As labaredas atingiam os fios deixando a cidade na escuridão, na maioria das ruas e avenidas. Tubulações de gás explodiam, tirando o sono de qualquer prefeito, bem como a imprensa e toda população de plantão. 
           Naquela cidade do século XXI, a energia não faltava nas baladas e shows graças aos geradores de serviço, sempre aptos para entrarem em funcionamento no bairro da gastronomia. Toda adrenalina mantinha a vida noturna. Os celulares não eram prejudicados, mantendo a comunicação à distância. O trabalho da polícia passou a ser tão necessário quanto comer feijão com arroz, diariamente, ou melhor, dioturnamente. Como se divertir, bebendo, bebendo, bebendo e dançando, sem praticar violência ???      
      Naquela cidade do século XXI, o relacionamento via internet passou de profissional para, prioritariamente pessoal, produzindo afeições e decepções entre encontros e desencontros, amores e desamores. A lucidez tornou-se rara nos atos do cotidiano estressante, do trabalho produtivo em prol do crescimento econômico acelerado na era da globalização. O entretenimento noturno, nos bares com banheiros masculino e feminino lotados, representava a grande catarse, que só os estádios de futebol não satisfaziam mais. 
            Naquela cidade do século XXI, havia uma rua misteriosa onde ninguém frequentava e que a prefeitura decidiu lacrar, instalando um portão na entrada com cadeado. Os moradores foram embora da cidade por se sentirem isolados e até ameaçados, na condição de desajustados sociais. A população tratava aquela rua como assombrada porque era a única diferente da cidade. À noite, a Rua do Medo era totalmente iluminada, não havia fogueiras de lixo, mesmo antes quando os moradores lá viviam. 
              Na Rua do Medo, a Prefeitura nunca encontrou problemas como no restante da cidade para resolver com dificuldades. Apenas cobrava os impostos, pagos em dia. 
              Um certo dia, o mistério acabou. Um menino muito curioso, achou um jeito de atravessar o grande portão, desafiando os colegas. Ao chegar do outro lado, descobriu o que mantinha aquela rua diferente de todas as outras da cidade... Parou em frente a um casarão antigo, que parecia assombrado, e resolveu criar coragem e entrar... Ficou assustado a princípio. Não havia ninguém. Diante dele surgiram dezenas de estantes cheias de livros. Era uma biblioteca abandonada... O menino chamou os coleguinhas e passaram o dia inteiro naquele casarão assombrado. E voltaram, e voltaram e voltaram sempre à Rua do Medo, depois de descobrirem que o que assustava a todos eram os vultos que ali desfilavam com suas obras literárias, eternizadas pelas leituras que deixaram de ser incentivadas... 

              

terça-feira, 25 de julho de 2017

FLIP

            Durante a Feira Literária de Paraty - FLIP - de 26 a 30 de julho, os títulos "Jorginho, o menino de ouro" - "A Formiga Solitária" e "O Último em canto" poderão ser encontrados na Livraria Paraty, sob a direção de Dona Norma. 

LIVRO ELETRÔNICO DA UFSC

          Em sua 3ª edição, o livro Eletrônico Literatura Infantil e Juvenil da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a Coordenação da Profª Eliane Debus, 2016, reune os meus quatro títulos. Agora podem ser consultados eletronicamente, "Jorginho, o menino de ouro" - "A Formiga Solitária" - "O Último em canto" e "Mãe Gralha em busca da sobrevivência", através do site: 
         http://literaturainfantiljuvenilsc.ufsc.br/.  

terça-feira, 4 de julho de 2017

ESPERANÇA

           Falar das flores, do amor que elas representam no brilho reluzente na natureza através de suas cores. Falar do prazer de viver, de conviver, de nascer e de crescer. Tudo isso é grandioso. Falar da Esperança como perspectiva de vida, como projeção do amanhã, é uma forte razão para existir. Todavia, quando a Esperança é ludibriada, é invocada e simultaneamente ignorada, um ar de tristeza invade a natureza humana.
            Como é possível brincar com uma palavra tão expressiva para a realidade humana ? Encher os sentimentos de Esperança, comprometendo os mínimos valores da sobrevivência com discursos prometedores, resumidos em simples retórica evasiva, é desesperador para um povo que consegue sorrir, sem dentes.
           Ao ser invocada, a Esperança nos remete ao provérbio popular de que "quem espera sempre alcança". Sendo assim, vale a pena esperar, quando a Esperança é revelada no sentido da realização. Portanto, esperar, esperar e esperar, até que se possa alcançar o fim almejado. 
       Quando alguém assume a Esperança com promessa de realizar, está criando expectativas geradoras de confiança, colocando em suas mãos o destino dos esperançosos. Frustrar essa crença esperançosa é como promover uma epidemia de decepções patológicas. 
             A Esperança não merece fazer parte de um mero jogo de palavras que soam e ecoam, levadas ao vento, sem rumo certo. Quem ouve, na carência de soluções, acaba acreditando que esperar é a solução. Enquanto se espera se desespera, num emaranhado de problemas sociais que se avoluma claramente. 
              Fazer da Esperança um elo de ligação entre o possível e o impossível é correr o risco de ameaçar sua sobrevivência. E, afinal de contas, não se pode matar a Esperança porque está na boca do povo que ela "é a última que morre". Em assim sendo, parece que só resta esperar a data do sepultamento. Talvez o pior criminoso seja o responsável pela morte da Esperança. 
               A Esperança mal... dita, cai no campo da desconfiança, refletindo um estado de coisa não realizada. É melhor voltarmos a falar das flores do que sequer pensarmos na morte da Esperança.